Estudo Bíblico de Lucas 20:9-19 - A Parábola dos Lavradores Maus
Texto Base: Lucas 20:9-19
"E começou a dizer ao povo esta parábola: Um homem plantou uma vinha, alugou-a a uns lavradores e partiu para fora do país por longo tempo. E, na devida estação, enviou um servo para que os lavradores lhe dessem do fruto da vinha; mas os lavradores espancaram-no e o mandaram vazio. E, de novo, enviou outro servo, mas também a este espancaram e o trataram com desprezo, e o mandaram vazio. E ainda enviou um terceiro, mas também a este feriram e o expulsaram. Então disse o senhor da vinha: Que farei? Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem. Mas, quando o viram, os lavradores discutiram entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança seja nossa. E lançaram-no fora da vinha e o mataram. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha? Virá e destruirá aqueles lavradores e dará a vinha a outros. E, ouvindo isso, disseram: Nunca aconteça! Mas ele, olhando para eles, disse: Que é, pois, o que está escrito: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como cabeça da esquina? Qualquer que cair sobre essa pedra será despedaçado, e sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. E procuravam lançar-lhe as mãos, mas temiam o povo, porque o tinham por profeta." (Lucas 20:9-19)
Introdução
A parábola dos lavradores maus, registrada em Lucas 20:9-19, é uma das mais poderosas e desafiadoras parábolas contadas por Jesus.
Ela faz parte de um confronto entre Jesus e os líderes religiosos, e o texto revela, de maneira clara e contundente, a rejeição de Israel à mensagem de Deus e, especificamente, a rejeição de Jesus como o Filho enviado por Deus.
A parábola também é um anúncio da iminente destruição de Jerusalém e da transferência da bênção de Deus para os gentios, o que será ilustrado pela rejeição dos líderes judeus à pedra que, mais tarde, se tornaria a pedra angular da Igreja.
Neste estudo, vamos explorar a parábola a partir do texto grego, analisando seus elementos principais e desafiando-nos a entender as profundas verdades espirituais que ela nos oferece.
Contexto de Lucas 20:9-19
Antes de mergulharmos no estudo do grego, é importante entender o contexto em que essa parábola foi proferida. Jesus está em Jerusalém e enfrenta oposição direta das autoridades religiosas, como os fariseus e os mestres da Lei, que estão questionando Sua autoridade.
O versículo anterior (Lucas 20:1-8) descreve um confronto direto entre Jesus e os sacerdotes, em que Ele lhes questiona sua falta de autoridade e a autenticidade de seu ministério. A parábola que segue, então, é uma resposta indireta a esses questionamentos e um julgamento contra a liderança que se opõe à Sua missão.
O Texto Grego - Análise Palavra por Palavra
A seguir, faremos uma análise do grego das palavras-chave que compõem o núcleo da parábola. A versão grega do Novo Testamento usada aqui é o Texto Crítico da Nestlé-Aland.
"Homem plantou uma vinha" (Lucas 20:9)
ἄνθρωπος (ánthrōpos): Significa "homem", referindo-se a uma pessoa comum. Jesus usa essa palavra de forma geral, mas com um sentido de autoridade e controle do senhorio da vinha.
ἐφύτευσεν (ephýteusen): Derivado de φυτεύω (phýteuō), que significa "plantar", "fazer crescer". A escolha do verbo implica um trabalho cuidadoso e intencional. O homem que planta a vinha é aquele que cuida, prepara e investe nela.
A imagem de um homem que planta uma vinha é rica de significado bíblico. Vinha é frequentemente usada para simbolizar o povo de Israel (Isaías 5:1-7).
O homem (representando Deus) investe na criação do Seu povo, plantando-o com a esperança de que ele produza frutos.
"Alugou-a a uns lavradores" (Lucas 20:9)
ἐκμίσθωσεν (ekmísthōsen): Derivado de μισθόω (misthóō), que significa "alugar" ou "arrendar". Isso implica uma relação de confiança e responsabilidade. O senhor da vinha entrega sua propriedade a outras pessoas para que cuidem dela e colham os frutos.
γεωργοῖς (geōrgois): Significa "lavradores" ou "agricultores". O termo é usado aqui para descrever aqueles que têm a responsabilidade de cuidar da vinha, um papel de grande importância, já que a vinha precisa de trabalho contínuo e dedicado para gerar frutos.
Os lavradores representam os líderes religiosos e os governantes de Israel, que receberam a responsabilidade de cuidar do povo e de conduzi-lo nos caminhos de Deus.
"Enviou um servo" (Lucas 20:10)
πέμψας (pémpse): Derivado de πέμπω (pémptō), que significa "enviar". Esse verbo sugere um ato de envio com uma missão específica. O servo enviado representa os profetas que Deus enviou ao povo de Israel, com a missão de chamar o povo ao arrependimento e à obediência.
Deus, ao longo da história de Israel, enviou muitos profetas para trazer Sua palavra ao povo. A parábola revela que os líderes do povo frequentemente rejeitaram esses profetas.
"Espancaram-no" (Lucas 20:10)
ἐπτυσαν (eptysan): Derivado de πτύω (ptyō), que significa "cuspir". Essa palavra é frequentemente associada a um ato de desdém e desprezo. Os lavradores não apenas rejeitaram o servo, mas demonstraram hostilidade aberta. Essa rejeição e violência contra os servos enviados por Deus é um tema recorrente nas Escrituras. Israel foi muitas vezes culpado de tratar os profetas com desdém e até violência, como vemos na história de Jeremias e outros.
"Enviarei o meu filho amado" (Lucas 20:13)
υἱόν ἀγαπητόν (huión agapēton): "Filho amado". A expressão "filho amado" é uma referência direta à relação única entre Deus Pai e o Seu Filho Jesus, como também ocorre no batismo de Jesus (Lucas 3:22). Jesus aqui se descreve como o Filho que é enviado, mas também como o alvo da rejeição dos líderes.
O envio do filho simboliza o envio de Jesus, que, como Filho de Deus, é a última tentativa de Deus de chamar Israel ao arrependimento.
O Significado Profundo da Parábola
A Rejeição do Filho
A parábola narra que, após o envio do filho, os lavradores planejam matá-lo para tomar a herança. Isso é uma clara representação da rejeição de Jesus pelos líderes judeus, que, em sua ganância e orgulho, rejeitam a autoridade divina e desejam tomar o controle de tudo para si mesmos. Jesus profetiza a Sua própria morte, que será orquestrada pelos líderes, mas também antecipa a derrota deles e o triunfo de Deus.
A Vinha e o Povo de Israel
A vinha na parábola representa o povo de Israel, conforme mencionado anteriormente. Deus, como o Senhor da vinha, confiou aos líderes religiosos a responsabilidade de cuidar desse povo, mas eles falharam em cumprir seu dever. Os servos enviados simbolizam os profetas, e o filho representa Jesus Cristo. A parábola revela o julgamento iminente sobre aqueles que rejeitaram os enviados de Deus e, finalmente, rejeitarão o próprio Filho.
O Juízo Final
A pergunta que Jesus faz no versículo 15, "Que lhes fará, pois, o senhor da vinha?", é um questionamento sobre o juízo que virá. A resposta é clara: "Virá e destruirá aqueles lavradores". O juízo de Deus será sobre aqueles que rejeitam o Seu Filho. Jesus usa essa parábola para anunciar a destruição de Jerusalém e o fim do domínio dos líderes judeus sobre o povo de Deus, e a transferência da bênção de Deus para outros — os gentios.
A Pedra Angular (Lucas 20:17-18)
Jesus conclui a parábola citando o Salmo 118:22-23, falando da pedra rejeitada pelos construtores, que foi colocada como a principal pedra da esquina. Jesus é a pedra rejeitada, mas Ele será a pedra fundamental da Igreja, que não será destruída. Aqueles que rejeitarem Jesus sofrerão juízo, mas aqueles que se firmarem nEle serão salvos.
Aplicações Práticas
A parábola dos lavradores maus não é apenas uma condenação do passado, mas um alerta para todosos tempos. Assim como os líderes de Israel falharam em reconhecer a autoridade de Deus e rejeitaram os Seus enviados, hoje somos chamados a avaliar como reagimos à palavra de Deus e ao Seu Filho Jesus.
Não podemos permitir que o orgulho, a ganância ou o medo nos impeçam de aceitar o chamado de Deus para nossas vidas.
A questão central da parábola é a escolha entre rejeitar ou aceitar a autoridade de Cristo.
Cada um de nós é desafiado a refletir sobre onde estamos posicionados em relação à pedra angular: estaremos entre os que rejeitam, ou entre os que edificam sua vida sobre Ele?
Conclusão
A parábola dos lavradores maus, ao ser analisada sob a perspectiva do grego, revela profundas verdades sobre a relação entre Deus e Seu povo.
Ela denuncia a rejeição de Jesus e a consequente destruição que virá sobre aqueles que não O reconhecem como o Filho de Deus.
Ao mesmo tempo, ela aponta para a vitória final de Cristo e o estabelecimento de Sua Igreja, que será construída sobre Ele, a Pedra Angular.
Que possamos, então, responder ao chamado de Deus com um coração disposto a ouvir e a obedecer à Sua palavra, aceitando Jesus como nosso Salvador e Senhor.
Que Deus te abençoe amém!
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